Segurar Vela

No período correspondente à Idade Antiga e Média, as pessoas acendiam velas para fazer suas atividades noturnas como, por exemplo, jantar, tomar banho, entre outras. Na Idade Média, as pessoas que eram designadas ao trabalho braçal seguravam as velas para que seu senhor enxergasse o que fazia.
Em eventos e estabelecimentos que só funcionavam à noite, colocavam garotos para acender e segurar velas. Por causa dessa atividade foi que surgiu na França a expressão “tenir la chandelle”, essa expressão também era usada para definir o trabalho desempenhado por criados que seguravam candeeiros para que seus patrões pudessem ter relações sexuais com luz, porém durante todo o ato sexual eles deveriam manter-se de costa de forma a não invadir a privacidade do casal.
Ao longo do tempo o termo “segurar vela” ganhou diferentes definições, a mais recente é a utilizada para designar o papel de um amigo solteiro que acompanha um casal de namorados, esse fica ‘sobrando e/ou atrapalhando’ o clima romântico do casal.
Dor de Cotovelo

Ao revisitarmos a história do samba, vemos que grandes nomes que fizeram parte da trajetória do gênero compuseram letras em que o amor era tematizado. Em geral, as relações amorosas eram pintadas por uma frustração ou infortúnio que impedia a consumação de uma relação bem sucedida. De acordo com alguns biógrafos do samba, a tal desilusão amorosa cantada, muitas vezes, se apresentava como uma extensão das decepções experimentadas na própria vida do compositor.
Lupicínio Rodrigues, famoso compositor gaúcho, foi um dos mais reconhecidos autores desse tipo de letra melancólica. Em muitas delas, dizia que o bar era o lugar ideal para curar os descaminhos da vida afetiva. Na canção “Taberna”, por exemplo, ele constrói um curioso eu-lírico que passou o dia inteiro no bar observando o movimento da freguesia e esquecendo a ingratidão dirigida à amada entre cada um dos tragos ingeridos.
Apesar de não ser possível apontar ele como o autor da expressão, foi Lupicínio que cumpriu a função estética de popularizar a lendária “dor de cotovelo”. A alegoria que dá sentido ao termo faz justa alusão a quem encosta-se ao balcão de um bar para esquecer o amor perdido e se embriagar. Seguindo a explicação, de tanto ficar recostado no balcão, em completa inapetência, aquele que já sofre por amor acaba “contraindo” uma terrível dor de cotovelo.
Sendo amante de várias mulheres e, por isso, vivendo muitas desilusões no campo sentimental, Lupicínio chegou a desenvolver uma teoria sobre a dor de cotovelo. A dor de cotovelo federal era aquela que só poderia ser curada com embriaguez total. Já a dor de cotovelo estadual era suportável e com o passar do tempo tudo se ajeitava. Por fim, havia a modalidade municipal da dor de cotovelo, que não poderia nem mesmo servir de inspiração para um samba.
Déjà vu

Você já viu uma pessoa pela primeira vez e pensou que a conhecesse de algum lugar? Ao conversar com alguém, percebeu que já havia falado exatamente as mesmas palavras? Isso é o Déjà vu.
A expressão francesa, que significa “já visto”, é usada para indicar um fenômeno que acontece no cérebro da maior parte da população mundial. O termo foi aplicado pela primeira vez por Emile Boirac (1851-1917), um estudioso interessado em fenômenos psicológicos. Déjà vu é quando nós vemos ou sentimos algo pela primeira vez e temos a sensação de já ter visto ou experimentado aquela sensação anteriormente.
Diversas teorias errôneas, como inatenção, vidas passadas ou visões sobrenaturais, surgiram para explicar o fenômeno. Já a hipótese de que verdadeiramente já seu viveu aquela cena antes é inválida, uma vez que essas ocorrências nunca poderiam recriar a situação com exatidão, devido à falta de sentimento associada a cada acontecimento na vida das pessoas.
Déjà vu também não é uma visão do futuro, uma vez que o fenômeno ocorre somente em momentos exatos, e jamais em situações anteriores.
Na verdade, a sensação é causada por um estado do cérebro, por fatores neuroquímicos. Os especialistas afirmam que o déjà vu é uma experiência baseada na memória e que os centros de memória do cérebro são os responsáveis pelo fenômeno. Os déjà vus acontecem principalmente nas pessoas de 15 a 25 anos.
De meia-tigela

Expressão de sentido degradante, “de meia-tigela” é um termo usualmente dirigido contra alguém com o intuito de desqualificar as suas habilidades. Apesar de não ser tão usual nos dias de hoje, essa designação nos conta uma interessante história sobre algumas transformações que aconteciam em Portugal durante a Idade Média. Foi nesse momento que a gíria de sentido fortemente depreciativo foi concebida.
No mundo feudal, a propriedade de terras era o mais importante meio de produção existente. Não por acaso, todo aquele que tinha terras sobre o seu controle ocupava a distinta e privilegiada posição de senhor feudal. Neste posto, um proprietário de terras poderia conduzir uma população de servos que trabalharia em suas terras e pagaria pelo seu uso com a doação de parte da produção agrícola. Em contrapartida, o senhor feudal deveria se ocupar de meios para ampliar e proteger suas propriedades de alguma invasão.
Temendo que a extensão de suas terras diminuísse com o passar das gerações, vários senhores feudais concediam os seus direitos de herança ao seu filho primogênito. Com isso, os demais integrantes da prole do nobre ficavam à mercê de alguma atividade ou posto eclesiástico que lhes garantisse o sustento. Em alguns casos, a busca por um casamento vantajoso, a realização de assaltos nas estradas ou o sequestro de algum grande proprietário.
Foi justo nesse processo de exclusão sócio-econômica que a nossa “maldosa” expressão passou a ganhar a boca de vários castelos medievais lusitanos. Todo aquele filho de nobre que não herdava terras era conhecido como “fidalgo de meia-tigela”. Isso porque ele também era proibido de participar de um importante banquete ritual onde se fazia a quebra de todos os pratos, louças e tigelas que serviam as refeições. Por fim, sobrava ao pobre filho de nobre os restos de sua posição social, ou seja, as meias-tigelas.
Conto do Vigário

O conto do vigário aconteceu no século XVIII na cidade de Ouro Preto entre duas paróquias: a de Pilar e a da Conceição que queriam a mesma imagem de Nossa Senhora.
Um dos vigários propôs que amarrassem a santa no burro ali presente e o colocasse entre as duas igrejas. A igreja que o burro tomasse direção ficaria com a santa. Acontece que, o burro era do vigário da igreja de Pilar e o burro se direcionou para lá deixando o vigário vigarista com a imagem.
Outro fato interessante aconteceu no século XIX em Portugal quando alguns malandros chegavam à cidades desconhecidas e se apresentavam como emissários do vigário. Diziam que tinham uma grande quantia de dinheiro numa mala que estava bem pesada e que precisaria guardá-la para continuar viajando.
Diziam que como garantia era necessário que lhes dessem alguma quantia em dinheiro para viajarem tranqüilos e assim conseguiam tirar dinheiro dos portugueses facilmente.
Dessa forma, até hoje somos vítimas dos contos dos vigários que andam por aí, por isso a dica é, tomar muito cuidado com ajudas e ganhos, para que não caia num Conto do Vigário.
Chorar as pitangas

Em sua história, o Brasil se comportou como um rico mosaico de culturas onde influências diversas deram origem às várias facetas que hoje tentam definir a figura do brasileiro. Sem dúvida, é praticamente impossível alegar que nosso país seja portador de uma “cultura pura”. Povos oriundos das mais diversas partes do mundo deixaram aqui sua marca, compondo a formação de um amplo leque de hábitos, gestos e expressões que não reconhecem nenhum tipo de limitação.
No início do processo de colonização, apesar das várias situações de conflito, portugueses e indígenas estabeleceram um contato empreendedor de diversas trocas culturais. Com esse respeito, alguns historiadores chegam a levantar a hipótese de que as dificuldades enfrentadas pelos colonos lusitanos seriam bem maiores caso não buscassem os saberes acumulados pelas sociedades indígenas que há séculos desbravaram o território.
De fato, o desafio de se adaptar a um espaço desconhecido deve ter feito muitos colonos “chorar lágrimas de sangue”. No entanto, se um português fosse se queixar a um indígena por meio dessa expressão gastaria certo tempo para que essa metáfora fizesse algum sentido para o nativo. É justamente aí que o contato entre esses dois mundos distintos, no caso, indígena e português, possibilitou a criação de novas expressões que perpetuaram em nosso cotidiano.
Segundo a indicação de algumas pesquisas, como a do folclorista Câmara Cascudo, o termo “chorar as pitangas” foi cunhado por meio desse contato entre culturas diferentes. No caso, o “sangue” que compunha a expressão lusitana foi substituído por “pitanga”, que significa “vermelho” na língua tupi. Dessa forma, o termo acabou fazendo alusão à uma lamentação extensa, onde o reclamante passaria chorando até ficar com seus olhos avermelhados.
Foi assim que uma nova expressão foi desenhada para reclamar das várias intempéries ocorridas durante o longo e difícil processo de dominação do território brasileiro. Não se limitando ao passado colonial, ainda temos muitas pessoas que admitem “chorar suas pitangas” quando algum tipo de contratempo sobrevém.





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